segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dos Mártires das Leis do Homem

És dos que nasceram no berço da tristeza e foram criados no colo do infortúnio e na casa da opressão? Estarás mastigando uma côdea endurecida, que tens de humedecer com tuas lágrimas? Estarás bebendo da água turva à qual se misturam sangue e lágrimas?

És um soldado compelido pela dura lei dos homens a abandonar mulher e filhos, e atirar-se ao campo de batalha a serviço da Ambição que seus líderes chamam erradamente de Dever?

És um poeta satisfeito com tuas migalhas da vida, feliz em dispor de pergaminho e tinta, acampado em tua terra como se foras um estrangeiro, e desconhecido por teus compatriotas?

És um priosineiro, encarcerado em masmorra escura por alguma ofensa insignificante, e condenado por aqueles que procuram reformar o homem corrompendo-o?

És como a jovem a quem Deus concedeu a beleza, mas que descaiu vítima da volúpia ordinária do rico, que a enganou e comprou seu corpo, mas não seu coração, e abandonou ao infortúnio e a todas as dificuldades?

Se és um dentre esses, és um mártir da lei dos homens. Vives na miséria e tua miserabilidade é o fruto da iniquidade do forte e da injustiça do tirano, da brutalidade do rico e do egoísmo do libidinoso e do ambicioso.

Posso confortá-vos, caros desamparados, assegurando que há um Grande Poder por trás e além desse mundo de matéria, um poder que é todo Justiça, Perdão, Piedade e Amor.

Sois como uma flor que cresce na sombra; vem a brisa suave e espalha vossas sementes à luz do sol, por onde vos expandireis de novo em beleza.

Sois como a árvore nua curvada sob a neve do inverno; a primavera virá e espalhará seus mantos de verdura sobre vós; e a verdade descobrirá o véu de lágrimas que esconde vosso sorriso.

Eu vos tomarei sob minha proteção, meus irmãos aflitos, eu vos amo e desprezo vossos opressores.

Gibran Kahlil - A Voz do Mestre

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