Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Entre as múltiplas e variadas condições que configuram a psicologia humana, achamos a que se define pela palavra lealdade. Aprofundar esta palavra, buscando em seu conteúdo os elementos com que sua raiz se nutre, é penetrar no profundo sentido e alcance da lei que rege a vida e a força dela.
As palavras são como as pedras preciosas: nas mãos das crianças, são simplesmente pedras vistosas, ou apenas pedras; nas mãos dos mais velhos, têm elas um valor, são apreciadas, e até se anela possuí-las pelo que brilham e pelo que valem; nas mãos dos especialistas, adquirem valor ainda maior: eles as examinam e sabem de imediato quantos quilates têm e seu grau de pureza.
Como as pedras preciosas, as palavras possuem também seus quilates e seu grau de pureza. Na palavra lealdade, os quilates podem ser calculados proporcionalmente à confiança que consegue inspirar quando encarna no homem que faz dela um culto; sua pureza se mostra na bondade das intenções daquele em cuja vida ela se manifesta sem ser desvirtuada.
Ser leal aos próprios sentimentos é ser fiel à própria consciência
Tudo quanto se pode apreciar no homem em seu grau mais legítimo está encerrado nesta palavra. Pode-se dizer que ela é, em síntese, a expressão de todo o verdadeiro e sadio que existe na natureza moral e psicológica.
Sem lealdade não é possível conceber a amizade entre as pessoas, nem tampouco tornar viável uma convivência de caráter permanente e sincero.
Os sentimentos humanos existem como manifestação do sensível e puro que se aninha no íntimo de cada um. Ser leal aos próprios sentimentos é ser fiel à própria consciência. Quando se desvirtua o caráter daqueles, esta se desnaturaliza. Diríamos mais: se é certo que pode morrer algo daquilo que forma o conjunto das condições humanas, a lealdade deveria ser a última a desaparecer como qualidade que pertence ao ser.
Pode-se afirmar, sem que seja por demais ousado, que uma das causas primordiais dos múltiplos infortúnios humanos foi sempre a falta de lealdade no trato mútuo. O engano e a falsidade são duas tendências destrutivas que, em todos os tempos, atentaram contra as boas disposições do ser.
Naturalmente, para alcançar a posição de integridade que a lealdade exige, é necessário chegar a possuir uma grande confiança em si mesmo. Porém, enquanto isso não possa ser alcançado em toda a sua extensão, será de grande benefício recordar constantemente o grau de importância de que se reveste a lealdade no conceito geral, pois é o que mais se estima e o que pesa no juízo de todos.
A lealdade se caracteriza pela consciência do dever. É profissão de fé consciente que o ser faz ao sentimento que, nascido de uma amizade ou de um afeto sincero e puro, converte-se em parte de si mesmo. E, sendo assim, não poderia esse sentimento ser menosprezado sem ferir profundamente a própria vida.
As grandes almas sempre compreenderam isso; por tal motivo, foram leais a seus princípios, a suas convicções e a seus profundos afetos.
Onde a lealdade existe, reina a harmonia, a união e a ordem; o contrário de tudo isso sucede ali onde ela deixa de se manifestar.
Trechos extraídos de artigo da Coletânea da Revista Logosofia Tomo 2 p.189
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